O LEQUE SALARIAL
Jorge H.D. Reis
2010/03/01
O LEQUE SALARIAL
A diferença entre a remuneração máxima e a remuneração mínima que os portugueses auferem é enorme: Portugal tem um dos maiores leques salariais da Europa, senão mesmo o maior. Assim, não admira que haja uns que vegetam num nível de vida baixíssimo e outros que vivam muito desafogadamente.
Mas o pior é que esta diferença vai aumentando a cada ano que passa, pois as remunerações são normalmente aumentadas percentualmente em função dos acordos entre sindicatos ou confederações sindicais e o patronato ou o Estado. Assim, por exemplo, os mesmos 2 ou 3 por cento que farão que um trabalhador que ganhe o ordenado mínimo nacional (€475.00) passe a receber mensalmente mais uns €9.50 ou €14.25 por mês fá-lo-ão ficar mais distante de outro que, ganhando inicialmente €4750.00 (dez vezes mais), passará a receber mais €95.00 ou €142.50. Isto é, a diferença entre os dois vencimentos, que era de €4275.00, aumentará de €85.50 ou €128.25. E isto acontece ano após ano.
Uma maneira de contrariar este aumento anual do leque poderia ser, por exemplo, o seguinte:
De quatro em quatro anos (por exemplo nos anos bissextos) calculava-se qual o valor total a atribuir às remunerações mensais dos trabalhadores, nesse ano, tendo como base o valor da inflação do ano anterior, e dividia-se igualmente essa massa salarial pelo número de trabalhadores. Assim, cada trabalhador teria um aumento igual ao de todos os outros e tal vencimento assim actualizado, muito provavelmente, teria um valor razoável para quem, por exemplo, estivesse recebendo o ordenado mínimo embora tal valor fosse ridiculamente pequeno para os trabalhadores que auferissem vencimentos importantes.
Claro que esta também é uma medida absolutamente utópica. Quem iria aprovar uma medida que “tirasse aos ricos para dar aos pobres”?